Confira entrevista de Juliana Paes para a Revista Marie Claire
0
Bagunça no camarim. Duas pessoas esticam a saia de Julina Paes e uma terceira faz força para subir o zíper. Empurra daqui, puxa dali e a atriz solta uma gargalhada: “Quem me dera ter essa ajuda todo dia”. Ao fim do esforço, lá está ela, a nossa nova Gabriela. Com cintura marcada, manequim 38 e o bumbum mais desejado do Brasil — por homens e mulheres — encaixadinho na saia justa. Para completar o salseiro, a atriz troca fotos com o garçom por uma quentinha de brigadeiros e libera a entrada de curiosos que pediam autógrafos. “Tenho uma alegria de viver que não sei de onde vem. Nasci assim.”
Coincidência ou não, Juliana é como a “Alegre Menina” da música de Jorge Amado e Dori Caymmi. Vascaína e frequentadora do estádio de São Januário — embora atualmente evite ir lá por causa do assédio do público —, adora devorar churrasquinhos de gato e rolar com o filho Pedro, de 1 ano e meio, pelo chão da sala. Apesar de ter espírito livre, aprendeu a ser menos espontânea, a medir as palavras para não ser mal interpretada. “Minha espontaneidade já me levou aos prantos”, disse Juliana. “Para viver em sociedade, é preciso se aprisionar.” Sem tantas amarras, entretanto, conversou com Marie Claire durante a sessão de fotos, e depois em seu carro, até chegar na casa onde mora, no Rio. O melhor desses momentos, você lê a seguir.
Da umbanda ao kardecismoNinguém tem uma só religião. Todo mundo faz uma simpatia ali, joga um búzios aqui... Tenho um mix cultural e religioso de informações. Posso ir da umbanda ao kardecismo. Fui criada na umbanda, mas a família da minha mãe é católica. E busquei caminhos pelo kardecismo e outras linhas do espiritismo. Acredito mesmo é no livre-arbítrio. Não acho que exista um destino traçado; é possível escolher seguir por aqui ou por ali. Mas não existe um caminho errado. Se você decidiu seguir por aqui, é o certo. ‘Ah, mas se eu tivesse ido por lá, não teria sido assaltado’. Bom, você foi assaltado para aprender alguma coisa, precisava passar por aquilo.”
Escolha convicta Fui agredida por uma notícia fabricada (a Folha de S. Paulo publicou que Juliana não seria escolhida para viver Gabriela por ter passado da idade). Os grandes diretores da TV Globo me escolheram com convicção. Mas, aí, chega alguém e inventa que estavam na dúvida por eu ter 33 anos. Como assim? Quem comprou essa ideia? As mesmas pessoas que encontro nas coletivas de imprensa e me tratam superbem (reflexiva). Poderia me fechar em copas, dizer ‘ah, sou legal com vocês, e vocês querem me derrubar?’, mas foi uma minoria que inventou isso para vender jornal. Prefiro me manter tranquila e continuar falando com todos. Não guardo rancor. Se for me sentir aviltada com tudo o que dizem a meu respeito, não vou falar com mais ninguém.”
Eu nasci assim… Tenho de Gabriela essa maneira de gostar da natureza, da vida. Fico feliz com coisas simples: ver um botão que se abriu, a orquídea que plantei no quintal dando flor, um passarinho fazendo ninho nas minhas plantinhas. Se fosse resumir Gabriela em palavras, diria que ela é livre. Livre e genuína. Só faz o que dá prazer. Eu não. Para viver em sociedade é preciso se aprisionar. Tento ser um pouco mais livre nesta jaula que é a minha vida de atriz, afinal, tenho uma vida pública. Mas não é fácil. Tem coisa que só funciona num ambiente privado. Eu demorei a entender isso. É chato ficar pensando nas palavras que preciso usar numa entrevista. Por que a opinião dos outros conta tanto? Nisso, temos muito o que aprender com Gabriela.”
Malhar? Para quê? Sempre fui uma safada e nunca malhei como as pessoas imaginam. É engraçado como algumas coisas viram verdade. Tenho vontade de pegar cada leitora pelo braço e dizer: ‘Olha, nunca fui de malhar, você acredita em mim?’. Tenho preguiça. Se fosse malhadora como as pessoas dizem, estava com o bumbum da Valeska! Mas depois do Pedro não teve jeito. Tive de pegar mais pesado. Antes eram duas vezes por semana. Depois da gravidez, malhei até aos sábados. Porque meu corpo mudou inteiro. O peito ficou mais flácido, a barriga não tem mais o mesmo tônus... Se bem que a atividade física deixou minha barriga até mais sarada. Já o peito, nada resolve. A única ginástica de fato boa para o peito é a mental, me olho e gosto dele como está, porque meu filho está lindo, forte, bem alimentado...”.
Primeira da turma As pessoas veem uma mulher bonita e acham que ela não estudou e teve tudo de mão beijada. Não é meu caso. Sempre batalhei muito. Me considero uma mulher articulada para falar, me expressar, e isso vem de leituras. Quando você tem bagagem cultural, viu coisas, ouviu palestras, vai aprimorando a fala e a escuta. Mas nunca me senti questionada em relação a isso. Acho que me veem como uma mulher inteligente e bem-humorada, e de fato me considero assim. Meu pai é coronel, sempre fui muito cobrada por ele. Era uma das primeiras da turma. Na faculdade de publicidade, batalhei uma bolsa e só podia tirar notas acima de 7.”
De más intenções... Sou inocente, não vejo maldade nas pessoas. A maldade está em quem a pratica. Eu estava trocando de roupa ali no estúdio e me disseram para tomar cuidado porque alguém de fora poderia ver, mas, cara, o problema é de quem está vendo. Tudo está nas intenções. Não tenho a intenção de me mostrar, de seduzir. E se alguém, por uma fresta, me viu trocando de roupa, é problema de quem viu. Não está comigo esta bola. Não acredito na máxima ‘de boas intenções o inferno está cheio’. Acho a frase uma cilada. O inferno está cheio é de más intenções.”
Mãe feliz Sou superpermissiva! Ultimamente, o Pedro tem vindo me agredir, grita comigo. Como pode, né? Um bichinho tão pequeno, já com tanta raiva... É do ser humano, ninguém ensina. Quando ele se frustra, reage assim. A reação que nós, adultos, deveríamos ter para não enlouquecer. Mas a gente se molda e fica louco, depois vai fazer terapia (risos). O certo seria gritar, espernear. Mas a gente não faz. Por isso dou risada quando o Pedro faz birra. Acho bonitinho ele ter uma reação assim porque ficou frustrado com alguma coisa... sei que estou errada, mas acho engraçado. Preciso dizer: ‘Pedro, não!’. E o pai dele briga comigo: ‘Juliana, você tem que impor limites...’. Estou aprendendo.”
Arroz e feijão Acho que estou com 58 quilos. Não tenho vocação para a magreza. Pelo contrário. Quando cheguei aos 52 quilos, na época da dança no gelo, do Faustão, diziam que eu estava anoréxica. Olha o que tem aqui (abre o porta-luvas do carro e mostra dois pacotes de salgadinhos de arroz e um de amendoim). Como arroz e feijão todo santo dia, mas tenho meus truques. Por exemplo, tirei o pão da minha vida, só como no fim de semana.”
Olhos e cachos demais Eu odiava meu cabelo cacheado, viva molhando no banheiro da escola para diminuir o volume. Hoje as pessoas não sabem que ele é assim, revolto. Durante a caracterização de Gabriela, quando disse que não ia precisar fazer nada no cabelo para cachear, ninguém acreditou. Eu falei: ‘Alguém tem um borrifador aí?’. Molhei os cabelos, chacoalhei a cabeça e disse: ‘É isso que vocês querem?’. Eu odiava meu cabelo antes, parecia uma pantera louca. Tinha que molhar principalmente na frente — até hoje tenho esses “filhotinhos” (aponta para os ‘baby’ cachos). Agora, nunca fui zoada na escola por causa do cabelo, o problema eram meus olhos grandes. Um garoto me chamava de zoiuda. Não era bullying porque eu não sofria. O menino devia ser a fim de mim, no caso, né? Acho que tenho uma autoestima legal, pois nunca liguei para essas coisas. E nunca fiz terapia para ter essa segurança. Isso é meu.”
Sônia Braga Sofro com as comparações desde que, em novembro, fui convidada para o papel pelo Mauro Mendonça Filho e pelo Roberto Talma. Primeiro, vibrei, depois, entrei em pânico. Pensei: ‘Caramba, vão me comparar com a Sônia Braga’. E a Sônia Braga é simplesmente uma mulher que, no imaginário da população, está num pedestal. É a dona de Gabriela. Quando percebi a cilada em que tinha me metido, era tarde. Mas as comparações vieram e tudo bem. A gente nunca está preparada para ouvir críticas, mas estou fazendo com amor e totalmente inspirada na imagem que tenho dela.”
Filho, sexo e carreira Não é fácil conciliar tudo o que eu faço na vida. Gravações têm horários loucos, exigem muito da gente. Em casa, depois que o Pedro nasceu, sexo passou a ser mais uma questão de qualidade do que de quantidade. Dudu e eu nos curtimos muito. Somos companheiros e entendemos a rotina um do outro. Mas, no geral, eu preciso aprender a priorizar as coisas; se eu quiser curtir o Pedro à noite, por exemplo, não posso ficar no celular ou respondendo e-mails. Mas não sou uma mãe culpada não. Fiquei muito tempo com o Pedro sem trabalhar, em casa, quase um ano, então, não me sinto mal de passar o dia longe dele.”
Créditos : Revista Marie Claire
Beleza: Max Weber;
Produção de moda: Jéssica Teixeira;
Tratamento de imagem: Marcelo Mari
Fotos : Eduardo Resende. Styling Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Matéria feita por : Inês Garçoni